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"Origens dos Conflitos entre Maçonaria e Igreja Católica"


Palestra: “Origens dos Conflitos entre

Maçonaria e Igreja Católica”(Sinopse)

Ministrada na Centenária Loja Porangaba Nº 2, em 11/10/2019. Em 1356 foi solicitado ao Prefeito de Londres, o registro da Associação de Pedreiros Livres. Com esse registro obtido, os participantes daquela Associação passaram a usufruir dos direitos de trânsito livre, podendo assim viajar em todo o território da Inglaterra; liberdade de reunião; isenção de impostos. Em 1455, ou seja, 99 anos depois, Jonhann Gutemberg inventa a impressora com tipos móveis, que facilitou a leitura para todos. A História iniciava uma grande transformação. Em 1509 sobe ao trono da Inglaterra, Henrique VIII1, que se casou com Catarina de Aragão. Apaixonou-se por Ana Bolena. Na esperança de ter um herdeiro que continuasse a dinastia Tudor, o rei resolveu se divorciar da rainha. Para isso, precisava da licença do Papa Clemente VII, e de um bom motivo. Alegou o fato de ser Catarina viúva de seu irmão e consequentemente, ilegítimas suas núpcias. E no ano de 1527 o Rei Henrique VIII solicitou formalmente ao Papa, a anulação de seu casamento, não obtendo deste, a permissão almejada. Daí começou uma relação clandestina entre o Rei e Ana Bolena. Iniciava-se uma crise política-diplomática entre a Inglaterra e a toda poderosa Igreja Católica. Henrique VIII fundou a Igreja Anglicana, não mais reconhecendo a autoridade do Papa. No dia 25 de janeiro de 1533, realizou-se secretamente o casamento de Henrique VIII e Ana Bolena, passando por cima da autoridade papal2. Henrique VIII constituiu-se em protetor e chefe supremo da Igreja Anglicana e do Clero, em toda a Inglaterra. Foi extinto o celibato dos padres e confiscados os bens da Igreja Católica. Henrique VIII foi excomungado pela Igreja Católica. Em meados de 1536, Ana Bolena é condenada por unanimidade, através de uma corte onde seu próprio pai e o Rei, faziam parte. Causa da condenação: adultério. Em 1547 faleceu Henrique VIII, aos 55 anos. Eduardo VI3, seu filho com Joana Seymour, lhe sucedeu. Em 1558 Elizabeth I, a Rainha Virgem4, assume o trono da Inglaterra. Enérgica e autoritária, implanta definitivamente a Igreja Anglicana na Inglaterra, perseguindo católicos e membros da seita presbiteriana dos puritanos. Temendo conspirações, aprisiona Mary Stuart, sua prima e rival, rainha católica da Escócia, e manda decapitá-la em 1587. Durante seu reinado a Inglaterra transforma-se em potência mundial. Em 25 de fevereiro de 1570, o Papa Pio V excomungou Elizabeth I por tudo que ela fizera contra o catolicismo. Até aí a Maçonaria continuava operativa, não incomodando ninguém, nem sendo incomodada. Em 1600, 244 anos depois do Registro da Associação dos Pedreiros Livres, foi aceito o primeiro maçom especulativo, Lord John Boswel (agricultor), que passou a gozar das vantagens e benefícios por pertencer à Associação de Pedreiros Livres. Em 1646 outro maçom especulativo foi aceito: Elias Asmole (com 29 anos), que se tornou importante antiquário, político e oficial das armas. Também estudou astrologia e alquimia e era Rosacruz. Alguns historiadores maçônicos conferem a ele a criação dos Rituais do 1º, 2º e 3º, por conta de seu conhecimento como Rosacruz. Faleceu em 1692, com 75 anos. Daí em diante, as Lojas proliferaram e eram mistas, ou só especulativas. Em 24 de junho de 1717 aconteceu a fundação da Grande Loja de Londres (Anthony Sayer como seu primeiro Grão-Mestre), e a partir dessa data a Maçonaria passou a contar com grande expansão e foi exportada para outros países. Holanda em 1731; França e Florença em 1732; Milão e Genebra em 1736 e Alemanha em 1737. Por ser vista como uma sociedade secreta, onde seus membros guardavam segredo absoluto sobre tudo que faziam em suas reuniões, além de ser constituída por nobres e aristocratas, começou a inquietar os poderes constituídos daqueles países, que viam naquela instituição, ameaça de tramas e subversões para derrubar o poder. A partir daí, começaram as proibições. Sem saber o que acontecia naquelas reuniões secretas, foi criado um alvoroço entre os dirigentes estatais e muitos desses governantes pediram providências ou soluções ao Papa. Alegações apresentadas pelos reclamantes: - A tal Maçonaria admitia pessoas de todas as religiões; - Era exigido segredo aos seus membros; - Prestavam obediência a um poder central, em Londres. Em 1738, 15 anos após a publicação da Constituição de Anderson, em Londres, o Papa Clemente XII, doente, acamado, cego há 6 anos e rodeado por pessoas que lhe filtravam as informações e ainda sob pressão dos governantes que exigiam providências, além dos Inquisidores que exerciam sua influência, foi assinado no dia 28 de abril, a Bula In Eminenti, selando o destino dos maçons católicos e da Maçonaria, em geral. A Bula In Eminenti excomungava todos os maçons e afirmava que era bom exterminar essas reuniões clandestinas, pois poderiam atuar contra os governos instalados. Os países católicos foram aceitando as proibições impostas pela Bula, à exceção da França, que se manifestou oficialmente, contra a aplicação daquelas proibições. Nos Estados Pontifícios (Itália desunificada), com constituição administrativa católica, todo delito eclesiástico era castigado como delito político e vice-versa. Infringir a religião era infringir a lei. E aconteceu verdadeira caçada à Maçonaria e aos seus membros. A Inquisição, encarregada de executar as ordens papais, torturou, matou e queimou vivo, inúmeros maçons. Em 1800 foi eleito o Papa Pio VII e durante seu papado surgiu Napoleão Bonaparte5, na França. Em 1808, por conta da ameaça de Napoleão, a Coroa Portuguesa fugiu para o Brasil. Napoleão conquistou Roma e proclamou o fim do poder temporal do Papa, mantendo-o aprisionado no Castelo de Fontainebleau. Em 1815, com a queda de Napoleão, na França, o Papa recuperou parte de suas possessões, mas, o mundo já era outro, infestado por ideais libertários. E onde havia algum movimento de libertação, havia a presença de maçons. Nos Estados Unidos a Guerra da Independência iniciada em 1775, perdurou até 1783, sendo declarada a Independência em 04 de julho de 1776. Na França, a revolução Francesa, com a Queda da Bastilha em 14 de julho de1789. No Chile, em 1812. Na Colômbia, em 1821. Na Argentina e no Brasil, em 1822. A Maçonaria deixou de ser simplesmente inconveniente e passou a mais ações concretas e objetivas. Por conta disso, mais e mais condenações pela Igreja Católica. Mas, até aí, a Igreja não tinha sido atingida diretamente pela influência maçônica. O que de fato condenou a Maçonaria pela Igreja Católica, foram os acontecimentos do processo de reunificação da Itália. Até hoje, alguns setores da Igreja ainda não esqueceram esses episódios. De 1815 até 1870 aconteceu o chamado Risorgimento (unificação dos estados que compunham a Itália àquela época). A Itália era uma verdadeira “manta de retalhos”, constituída por vários estados, entre os quais, os Estados Pontifícios6, que correspondiam a 13% do total da Itália, correspondendo a 41.000 km², e que pertenciam ao Clero, localizados na região central. Eram os Estados da Igreja, ou Patrimônio de São Pedro. A população dos Estados Pontifícios não tinha acesso a nenhum cargo público, pois todos os funcionários pertenciam ao Clero e usavam o hábito. Em 1767 começaram os movimentos de inconformismos visando a libertação. Isso provocou a expulsão dos jesuítas, que ocupavam o território de Napoles. Em 1797 foi fundada a sociedade secreta com o nome de Carbonária, de caráter meramente político e que tinha como objetivo principal, a unificação da Itália. Em 1821, 13 de setembro, Pio VII publicou a Carta Encíclica Ecclesiam a Jesu Christo que condenava todas as sociedades secretas, particularmente, a Carbonária e a Maçonaria. O Papa entendia que tais sociedades secretas pretendiam fomentar rebelião contra reis e príncipes, despojando-os de seus poderes. Por conta disso excomungava todos os seus membros. Detalhe de texto dessa Carta Encíclica: “Os Carbonários têm como finalidade principal o mais perigoso de todos os sistemas: propagar a indiferença em matéria religiosa; dar a cada um a liberdade absoluta de fazer para si mesmo uma religião conforme suas tendências e suas ideias; (…) desprezar os sacramentos da Igreja (…) bem como os mistérios da religião católica; enfim, destruir esta Sé Apostólica contra a qual, animados por um ódio todo especial devido ao primado desta Cátedra, eles tramam as mais detestáveis e sórdidas conspirações.” Carta Apostólica, ou Carta Encíclica é denominação genérica. Apostólica aqui significa “do Apóstolo Pedro, que fala por seu sucessor”. A Carbonária tornou-se perigosa e prejudicial à Maçonaria, pois era confundida com esta. Os Carbonários também possuíam seus Aprendizes, Mestres, Grão-Mestres, Oradores, Secretários, Sinais, Toques e Palavras, Juramentos e Segredos. Os principais líderes da Carbonária (Cavour, Mazzini e Garibaldi), eram também maçons. Mas, as duas se diferenciavam pela origem, finalidade e atividades. Os carbonários matavam, se fosse necessário. Eclodiram grandes desordens nos Estados Pontifícios. A insatisfação contra o Clero era grande, pois os leigos eram privados ao acesso dos cargos públicos administrativos. Em 1848 o Papa Pio IX teve que refugiar-se em Nápoles, por conta da revolução eclodida nos Estados Pontifícios e responsabilizou a Maçonaria pela usurpação aos tais Estados. Em 1849 foi proclamada a República em Roma e Pio IX publicou cerca de 226 condenações contra a Maçonaria. Ele e seu sucessor Leão XIII, lançaram juntos, mais de 600 documentos de condenações contra a Maçonaria. Em 14 de maio de 1861, Vitor Emanuel II (Pai da Pátria), foi proclamado Rei da Itália Unificada. Em 27 de maio de 1917, o Papa Bento XV promulga o Primeiro Código de Direito Canônico, também conhecido como Código Pio-Beneditino. O cânon 2335 diz assim: “Os que dão seu próprio nome à seita maçônica ou a outras associações do mesmo gênero, que maquinam contra a Igreja ou contra os legítimos poderes civis, incorrem Ipso Facto (por isso mesmo; em consequência), na excomunhão simplificter (direta, simplificada) reservada à Sé Apostólica”. Em outros cânones dizia que católicas não se casassem com maçons; que seriam privadas da missa de exéquias; não poderiam ser padrinhos de casamento, em fariam a confirmação de batismo (a crisma). Sacramentos proibidos aos maçons, por conta desse Código Pio-Beneditino: Batismo, Eucaristia, Crisma, Penitência (confissão), Matrimônio, Ordenação Sacerdotal e Unção dos Enfermos. Daí, a Maçonaria, para atender os anseios dos Irmãos Católicos, criou ao Ritual de Adoção de Lowtons, de Apadrinhamento; o Ritual de Pompas Fúnebres e Ritual de Confirmação de Casamento. Em 11 de fevereiro de 1929 foi criado o Estado do Vaticano, através da assinatura do Tratado de Latrão7, onde o Papa ficava restrito ao Vaticano (44.000m²) e o Papa Pio XI reconhecia a posse política de Roma e dos Estados Pontifícios e afirmava sua permanente neutralidade política e diplomática. Daí ficou encerrado o processo de unificação da Itália e a Carbonária desapareceu, pois havia cumprido seu ideal. Em 27 de novembro de 1983, com o Papa João Paulo II, foi publicado novo Código de Direito Canônico, entrando imediatamente em vigor, reduzindo para 1752 os 2414 cânones anteriores, do primeiro Código (de maio de 1917). Cânon 1374, do novo Código: “Aquele que se afilia a uma associação que conspira contra a Igreja, deve ser punido com a justa penalidade e aqueles que promovem e dirigem estes tipos de associações, entretanto, devem ser punidos com

interdição”. A Maçonaria, enfim, ficou livre do Estigma de Condenação! (???) Entretanto, no mesmo dia foi publicada uma nota no jornal oficial do Vaticano: a Declaração da Congregação para a Doutrina da Fé. E dizia assim: Permanece imutável o juízo negativo da Igreja perante as Associações Maçônicas, porque os seus princípios sempre foram considerados inconciliáveis com a Doutrina da Igreja, e por isso, a inscrição continua proibida. Os fiéis que pertencem às Associações Maçônicas, estão em estado de Pecado Grave e não podem receber a Santa Comunhão. Não compete às autoridades eclesiásticas locais, pronunciarem-se sobre a natureza das Associações Maçônicas com juízo que implica na revogação do que é estabelecida. A publicação dessa Declaração, que podemos entender como a contragosto do Papa, foi para atender politicamente, a um grupo minoritário insatisfeito, dentro do próprio Clero. Com esse novo Código do Direito Canônico e com a Declaração da Congregação para a Doutrina da Fé, mudou muito pouco para a Maçonaria, mas esse muito pouco já é alguma coisa para quem nada tinha. A pacificação total virá com certeza, mas não se pode ter pressa. Já foi um enorme passo a publicação do novo Código de Direito Canônico. A Questão Religiosa no Brasil (1872 a 1875): Em três de março de 1872, houve no Grande Oriente do Lavradio uma sessão para festejar a vitória de Rio Branco, isto é, a Lei do Ventre Livre. Era uma reunião formalmente maçônica. Um dos oradores, o Pe. José Luís de Almeida Martins, recebeu do seu bispo, Dom Pedro Maria de Lacerda, insistente apelo no sentido de afastar-se da maçonaria. Em vão. O padre Almeida Martins publicou o seu veemente discurso maçônico nos principais jornais. O bispo do Rio resolve suspendê-lo do exercício das ordens. A Maçonaria, ofendida com a reação do bispo, que invoca textos pontifícios não placetados pelo governo imperial, convoca uma sessão para 16 de abril, sob a presidência do Visconde do Rio Branco, Presidente do Conselho. Por sugestão do mesmo Rio Branco, o Grande Oriente decide desencadear uma guerra pelos jornais contra o Episcopado brasileiro. Em 27 de abril, reunia-se o Grande Oriente do Vale dos Beneditinos e formulava idênticas resoluções. O primeiro resultado foi, assim, a união das duas Potências Maçônicas, antes divididas. Os dois Grão-Mestres, Rio Branco e Saldanha Marinho, decretaram aos maçons de todo o Brasil unir suas forças para a batalha que se ia travar contra a Igreja. D. Frei Vital Maria Gonçalves de Oliveira, pernambucano, nomeado bispo de Olinda aos 27 anos, tomou posse da diocese em 24 de maio de 1872, acompanhado pelo bispo de Belém, D. Antônio de Macedo Costa, companheiro na famigerada luta da maçonaria que iria começar bem depressa, e quase levou o Brasil às margens do cisma religioso. Antes que D. Vital chegasse a Olinda para exercer seu episcopado, já os jornais maçons o atacavam brutalmente, como atacavam o bispo do Rio e a Igreja em geral. Antes, pois, que os bispos de Olinda e do Pará houvessem dito qualquer palavra ou praticado qualquer ação contra a maçonaria. O bispo de Olinda, acusado perante o Supremo Tribunal por esses motivos, foi preso e recolhido ao Arsenal da Marinha do Recife, em 2 de janeiro de 1874. A figura digna e firme do Prelado brasileiro arrancou dos corações do povo brasileiro um preito de admiração imperecível. Foi condenado a quatro anos de prisão com trabalho forçado. Por decreto de 12 de março, foi-lhe comutada a pena a prisão simples na Fortaleza de São João, no Rio. Outra vítima da maçonaria foi o bispo de Belém do Pará e depois Arcebispo Primaz da Bahia, Dom Macedo Costa, que foi acusado pelos mesmos “crimes” e condenado à mesma pena que D. Vital. A reação da opinião pública nacional e mundial foi tamanha que o Ministério Rio Branco caiu. O imperador teve de escolher o Duque de Caxias para chefiar o novo Gabinete. Caxias condicionou a aceitação do Ministério à concessão da anistia aos dois bispos. Em 17 de setembro de 1875, foi assinado o decreto que punha fim à dolorosa “Questão Religiosa”, que havia três anos intranquilizava o país e tinha minado completamente a existência da própria monarquia. 1: Henrique VIII, que nasceu em 28 de junho de 1491 e faleceu em 28 de janeiro de 1547, foi o segundo monarca da Casa de Tudor, sucedendo seu pai Henrique VII. Foi coroado em 24 de junho de 1509. 2: Henrique VIII casou-se 6 vezes. Catarina de Aragão (1509 – 1533); Ana Bolena (1533 – 1536); Joana Seymour (1536 – 1537); Ana de Cleves (1540); Catarina Howard (1540 – 1541); Catarina Parr (1543 – 1547). 3: Eduardo VI nasceu em 12 de outubro de 1537 e faleceu aos 15 anos, em 06 de julho de 1553. Terceiro monarca da Casa de Tudor. 4 : Elizabeth !, filha de Henrique VIII e Ana Bolena, nasceu em 07 de setembro de 1533 e faleceu em 24 de março de 1603. Foi o quinto e último monarca da Casa de Tudor. 5: Napoleão Bonaparte nasceu em 15 de agosto de 1769 e faleceu como prisioneiro, em 05 de maio de 1821, na Ilha de Sana Helena. Sua liderança começou em 1799 através de golpe de estado conhecido como 18 de Brumário, quando foi instalado como Primeiro Cônsul. Coroado Imperador em 1804.e sua queda aconteceu na Batalha de Waterloo, na Bélgica, no ano de 1815, diante do Duque de Wellington, do Exército Inglês. 6: No ano 756, Pepino, o Breve, Rei dos Francos, cedeu ao Papa Estevão II, grande território na parte central da Península Itálica, constituindo-se em Estados Pontifícios até 1870. 7: Tratado de São João de Latrão foi assinado em 11 de fevereiro de 1929 por Benito Mussolini e pelo Cardeal Pietro Gasparri, Em 1978 aconteceu a primeira reformulação no Tratado, deixando de ser o Catolicismo, a religião oficial da Itália , tornando-se assim. um Estado laico. Em 1984, novas alterações no Tratado, desobrigando o ensino religioso e o Vaticano perdeu o título de Cidade Sagrada.

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