A Franco-Maçonaria ou simplesmente a Maçonaria, é um patrimônio da humanidade. Esse reconhecimento é devido, pois ainda que o consenso maior seja acerca da vinculação genealógica da maçonaria moderna às Corporações de Ofício de pedreiros e arquitetos medievais, a essência e tradições desses corpos de ofício sugerem, que suas raízes mais profundas remontam à antiguidade da civilização humana.
O termo Maçonaria deriva etimologicamente do termo em inglês “Mason” efrancês “Maçon”, cuja tradução significa “Pedreiro”. Tais palavras, estão diretamente ligadas ao ofício da cantaria, designado em alemão por “metz”, ou seja, “cortador de pedra”, atividade dos maçons operativos de cortar determinado tipo de pedra e esquadreja-la, tendo em vista torna-la cubica e perfeita para o uso em construções (CASTELLANI, 2007; FIGUEIREDO, 2011).
É consenso dentre os historiadores da Ordem, que a Maçonaria moderna consiste de uma extensão das primeiras associações de construtores, como: os Collegia Fabrorum do Século VI a.C., que eram colégios de arquitetos fundados, a partir do governo romano do Imperador Numa Pompílio; as Guildas e a organização dos Ofícios Francos do Século XII d.C. na França e Inglaterra; e no mesmo século na Alemanha, os Steinmetzen, cortadores e talhadores de pedra, que estiveram envolvidos na construção da Catedral de Estrasburgo.
Desde as épocas mais remotas, quando os grupamentos sociais se sedentarizaram e as primeiras civilizações se formaram, o oficio da construção se fez presente e foi aperfeiçoado na medida do desenvolvimento civilizatório. A geometria e a arquitetura, enquanto ciência, logo viriam a ganhar o título nobre de arte real e sacra, por serem apreciadas tanto pelos membros da nobreza, como pelo clero característico de cada nação.
Assim, os antigos construtores marcaram a sua história no seio das grandes civilizações que hegemonizaram os diferentes períodos históricos, através do ofício empregado na construção de grandes templos, sepulcros, palácios, fortes, pontes e monumentos arquitetônicos de toda ordem e dimensão.
A despeito dos efeitos do tempo a Maçonaria conseguiu avançar até a idade contemporânea, devido ao um intrínseco caráter congregacional, fraterno e de mutuo auxilio entre seus membros. O processo de transição pelo qual passou do período antigo e operativo ao moderno e especulativo (filosófico), quando do encerramento da Idade Média em fins do Século XV e início do Século XVI, a Maçonaria progressivamente evoluiu de simples corporação de ofício e confraria à ordem filosófica e escola de formação de livres-pensadores, o que resultou na propagação do sistema maçônico até os dias de hoje.
Com a decadência no século XVI das atividades operativas, tendo em vista adensar o quadro das associações de Maçons ainda operativos, evitar o declínio e dar nova projeção às corporações na sociedade, passou-se a admitir insignes representantes da intelectualidade da época, mas estranhos ao ofício, que “serviram-se das associações organizadas de pedreiros-livres, tornando-se aceitos, para desenvolver a sua atividade cultural e social” (CASTELLANI, 2007).
A maçonaria demonstrou assim, em detrimento do uso da força ou de dogmas, uma capacidade singular e amplamente reconhecida pelo conjunto da sociedade de acomodação de distintas escolas de pensamento filosófico, científico, religioso e político. Qualidade essa, digna do interesse e atração de homens dotados de espirito liberal e das mais diversas classes, credos e profissões, inclusive personalidades marcantes da história.
A proteção de pessoas influentes, a liberdade de manifestação do pensamento e de abordagem da universalidade de novos conhecimentos característicos da época, tão cerceados pelo dogmatismo religioso, foram razões para a sedução das mentes de grandes intelectuais, que colocariam a Maçonaria na vanguarda dos grandes movimentos de reforma social e de libertação humana ao longo do Século XVIII (intitulado “século das Luzes”) e do Século XIX (“século das grandes revoluções científicas”).
Filósofos, cientistas, rosa-cruzes, renomados políticos, nobres, burgueses, militares, líderes de movimentos de reforma e libertação social, logo viriam solicitar sua iniciação no seletivo círculo de convivência das Lojas maçônicas, onde encontrariam guarida para o debate e disseminação dos seus ideais progressistas. Esse poder de atração, sem dúvida, se deve ao conteúdo e poder dos ritos cerimoniais, passivos de real, digna e completa compreensão, apenas por aqueles que vivenciam regularmente a Maçonaria.
Defini-la de maneira estrita e taxativa é tarefa dificultosa, sob pena de incorrer em reducionismos devido à escassa documentação acerca da imprecisa origem perdida “na noite do passado” de suas tradições, elementos doutrinários e práticas ritualísticas, como também devido à incorporação de elementos advindos das tendências culturais dos maçons aceitos ao sistema do simbolismo maçônico.
Evidência dessas possibilidades é a existência de inúmeros ritos e rituais dos mais diversos matizes litúrgicos, que sistematizam e transmitem os princípios e propósitos maçônicos, através de uma espécie de linguagem global, regular, emblemática, universalmente aceita e assimilada entre os maçons modernos.
Toda a cultura de sociabilidade, tradições e símbolos das antigas corporações de oficio, foi sistemática e progressivamente adaptada a uma perspectiva estritamente filosófica, espiritualista, de aplicabilidade moral e política, com o ingresso dos “Aceitos”. O marco histórico-institucional da Ordem Maçônica especulativa é a fundação em 24 de junho de 1717 da primeira potência regular, de funcionamento público e continuo: a United Grand Lodge of England, a “Grande Loja Unida da Inglaterra”, momento a partir do qual a Instituição tem se definido genericamente, como essencialmente filosófica, filantrópica, educativa e progressista, tendo por ideal e objetivo a formação moral do homem contemporâneo.
O arquétipo do Maçom moderno, resume-se a ideia de que todo homem é um construtor social, falível, mas perfectível, portanto, passivo de aperfeiçoamento, tendo como sua maior obra arquitetônica a ser empreendida: a construção do templo moral e da concórdia espiritual da humanidade. Daí a Maçonaria ter como sua definição geral mais aceita e corrente, os seguintes aspectos:
Filosófica por se dedicar ao estudo e compreensão racional dos fenômenos materiais e imateriais da vida e da natureza, em seus princípios, propriedades e leis gerais;
Filantrópica por se constituir também como entidade de auxílio mútuo e assistência social, cujos propósitos não se pautam por distinções religiosas, políticas, nacionais, de classe, raciais ou de gênero;
Educativa por objetivar transmitir, a partir de suas práticas ritualísticas e de seus símbolos ensinamentos morais, intelectuais e espirituais destinados ao aperfeiçoamento do homem como ser social;
Progressista, por não interpor obstáculo algum à capacidade criativa e virtuosa do ser humano, quando esta se voltar para a descoberta de suas potencialidades e ao enriquecimento do universo social e natural que o gerou.
CASTELLANI, José. A ação secreta da Maçonaria na Política mundial. 2ª edição, São Paulo: LADMARK, 2007.
FIGUEIREDO, Joaquim Gervásio de. Dicionário de Maçonaria 17ª edição, São Paulo: Pensamento, 2011.
LOMAS, Robert. Os segredos da maçonaria. São Paulo: Madras, 2015.
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