Termos semelhantes, pois possuem a mesma raiz etimológica, rito e ritual são palavras em torno das quais são travadas interessantes discussões acerca do seu entendimento. Antes de qualquer tentativa de conceituação, é necessário situá-los num determinado campo de estudo científico, tendo em vista alcançar certo aprofundamento na substância de cada termo.
Nesse sentido, o campo científico da antropologia nos auxiliará na análise sobre essa matéria.
A antropologia é a ciência, que estuda as culturas humana, investigando e descrevendo as formas de desenvolvimento do comportamento humano e seus os fenômenos socioculturais. A maçonaria pode ser entendida como um fenômeno sociocultural, um espaço de sociabilidade, permeada por cerimoniais e condutas que são particularmente características de seus membros, logo, a maçonaria não escapa ao campo de estudo da antropologia. Nos situamos mais especificamente no âmbito da antropologia cultural, a qual se volta para o estudo dos comportamentos dos diversos grupos humanos, das origens da religião e da religiosidade, dos usos, costumes e convenções sociais, que se convertem ao longo do tempo em tradições e vão compondo o tecido cultural.
Por cultura, se entende toda a manifestação social, de caráter coletiva e complexo, enriquecida ao longo do tempo em seu sentido material e imaterial de sistemas de símbolos e ações, que vão integrando os diversos folclores, rituais, crenças e mitos, componentes elementares das alegorias sociais, que expressam os significados e identificam um determinado grupo de pessoas.
Os símbolos desempenham nesse conjunto, singular importância, pois se constituem em instrumentos mediadores, receptáculos de sentido, expressam fatos, situações míticas ou não e ideias. Eles são formas materiais e/ou imateriais de representação da realidade. Para muitos cientistas sociais, é através da representação simbólica, que nos apropriamos do mundo, tornando-o mais inteligível. A simbologia é ramo de estudo da criação e uso dos símbolos nas diferentes culturas e em suas práticas ritualísticas.
Os ritos humanos, com sua significação e objetivo particular, estão presentes nas culturas dos mais diversos povos e por serem criações essencialmente humana, tem sua forma e prática variável ao longo da história. Variam porque durante o desenvolvimento social, os ritos vão assimilando elementos e significados outros: políticos, espirituais, morais, etc., às vezes advindos de outras culturas, num processo de incorporação perfeitamente natural.
Quando alguém se lança no estudo da ritualística maçônica, acaba se deparando com a aplicação dos termos rito e ritual de tal forma, que chega a tomar um pelo outro, sem compreender suas diferenciações. Maçons e não maçons, quando se defrontam com essa matéria, acabam questionando sobre a origem, natureza e finalidade dos diversos ritos maçônicos e interpretando de forma muitas vezes equivocada, mistificada e preconceituosa, sobre os rituais por pura falta de entendimento.
Sobre esse assunto, o douto Irmão Kenyo Ismail observa, que podemos fazer uma analogia com a linguagem do direito e entender o Rito como a lei e Ritual como uma instrução normativa. Para o autor, podemos concluir da literatura maçônica “que Rito é conteúdo e Ritual é forma. Ou que o Rito é um conjunto de graus, sendo que cada grau é um Ritual” (ISMAIL, 2013) (1).
“Um Rito é realmente como uma lei. É um conjunto de preceitos e obrigações gerais que produz efeitos sobre aqueles que estão sob seu alcance. Assim como uma lei, um Rito reflete princípios que o orientam, possui elementos históricos, além de buscar um objetivo específico. [...] Já o Ritual é como uma instrução normativa, um manual de procedimentos que determina e regulamenta como essa lei deve ser praticada e observada. Uma lei pode ter várias instruções normativas, quando necessário. [...] Do mesmo modo, o Ritual é o manual de procedimentos que determina a prática do Rito, o qual pode ter vários rituais” (ISMAIL, 2013).
Assim, podemos dizer que a ritualística maçônica consiste, como qualquer outra, numa prática de sistematização de ensinamentos e valores morais, intelectuais, políticos e espirituais, que compõem a moral maçônica, estabelecida em Ritos diversos; como também, numa prática de transmissão dessas lições através da adoção de símbolos, alegorias e cerimônias teatrais operacionalizadas, mediante rituais adotados por seus membros.
Elemento comum aos ritos e rituais é a não interferência nas convicções particulares de cada indivíduo, temos por finalidade tornar o homem melhor e não convertê-lo a essa ou àquela doutrina. A doutrina maçônica, sob qual viés for praticada, não tem por objetivo converter, mas inspirar ao aprimoramento do gênero humano, respeitada a liberdade de consciência e de pensamento.
A diversidade de ritos e mais ainda de rituais maçônicos pelo mundo, se deve meramente a questões de caráter formal ou por conta das influencias de determinados movimentos históricos, interiores e exteriores à Maçonaria, que acabaram a influenciando, como a qualquer outro grupamento social.
Segundo alguns historiadores da ordem, ao longo da história foram contabilizados em torno de 140 ritos maçônicos, cada um, organizado em diferentes números de grau. O Rito de York é considerado o mais praticado no mundo; o Rito Escocês Antigo e Aceito o mais praticado na América; e o Rito Moderno um dos mais tradicionais e legítimo filho do movimento Iluminista francês. No Brasil, além de se verificar a prática regular desses e de outros ritos, ainda se pratica amplamente no país o Rito Adonhiramita e o característico rito de nossa nação: o Rito Brasileiro.
Na Inglaterra e Escócia, as cerimonias maçônicas não são regidas por ritos, mas um conjunto de rituais, justamente por considerar como natural e esperada a diversidade de práticas ritualísticas. Assim, o que se pratica de forma mais hegemônica é o Ritual de Emulação, que não deve ser chamado de Rito, “pois se refere a um manual com textos e práticas específicas, que segue estritamente as diretrizes do sistema inglês, sistema esse que a Grande Loja Unida da Inglaterra opta por não chamar de Rito. Há na Inglaterra outros tantos rituais diferentes: Bristol, East End, Falcon, Goldman, Henley, Humber, Logic, Newman, Oxford, Paxton, Stability, Sussex, Taylor, Universal, Veritas, West End, etc. Porém, todos esses Rituais, assim como o de Emulação, como boas instruções normativas que são, também seguem as mesmas diretrizes da “lei” maçônica inglesa pós-1813” (ISMAIL, 2013).
A Centenária Loja Porangaba nº 2 quando de sua integração ao Grande Oriente do Brasil no Estado do Ceará, praticava o rito Adonhiramita, que veio abandonar ao se desligar daquela Potência, para então aderir ao movimento emergente de Grandes Lojas Simbólicas Escocesas em território nacional, passando a realizar seus trabalhos maçônicos conforme o Rito Escocês Antigo e Aceito, sob os asupícios da Mui Respeitável Grande Loja Maçônica do Estado Ceará no que concerne às práticas dos graus simbólicos e sob a inspetoria litúrgica do Supremo Conselho do grau 33 do Rito Escocês Antigo e Aceito da Maçonaria para a República Federativa do Brasil no que diz respeito aos graus filosóficos.
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